Cara, eu queria te falar sobre aquele e-mail enviado às 20h. De uma sexta-feira.
Sobre aquela mensagem de trabalho super urgente no fim de semana.
Sabe, eu consigo VER o brilho nos olhos das pessoas quando digo que tenho minha própria empresa e, por isso, meus horários são mais ou menos flexíveis e eu posso ir ao médico quando bem entendo, ou posso trabalhar de um café em vez de ficar no home office. “Puxa, um dia eu chego lá”, “Nossa, deve ser muito legal não ter chefe!”
Desculpa ter que te dizer isso, mas cada cliente que paga pelo seu trabalho é um pouco seu chefe, sim. Se você tem três clientes, você terá três pessoas pedindo resultados. Se você não tem um cliente de contrato assinado, mas você tem um público que assina seus serviços e consome publicidade no seu site, este público é meio seu chefe, sim.
Mas quem decide os termos do seu trabalho é você – e se o cliente não concorda, ou vocês ajustam, ou o contrato de trabalho não é assinado. Porque seu cliente não paga suas horas extras e nem seu plano de saúde – e se você não trabalha de carteira assinada, você não tem licença remunerada se tiver algum problema de saúde. Se tiver tendinite por digitar demais, ou problemas de pressão por excesso de trabalho, ou entupir as artérias por comer comida congelada em meia hora pra voltar para o computador, ou sua gastrite piorar porque você não janta, o problema é todo seu – e parar de trabalhar, quando você é freela, não é uma opção. Você não sabe quanto tempo sua licença vai durar. A menos que você tenha um emprego full-time e o seu negócio seja um negócio paralelo que precisa que você trabalhe nas suas outras horas de trabalho, você não recebe hora extra.
Então você não tem que trabalhar mais do que o que você aguenta.
Se o cliente sempre manda mensagens após um certo horário, você pode e deve estabelecer outra rotina, e até mesmo adaptar seus horários – começar mais tarde, por exemplo.
Mas se você está trabalhando desde as 8h da manhã, você pode aprender a dizer “não”. Pode deixar coisas para o dia seguinte, sim. E se elas forem inadiáveis (por exemplo, você realmente ficou de mandar aquele arquivo hoje, e já está atrasado) aprenda a dizer “não” para outros projetos, pra não deixar as coisas para última hora.
Nada é tão urgente que mereça que você sacrifique sua saúde – ou sua família.
Aqui no escritório, eu produzo melhor em horário comercial. Marido sai para o trabalho e eu também “saio para o trabalho”, que normalmente começa às 8h30 da manhã. Supondo que eu tire uma hora de almoço (e quem controla minhas horas sou EU, e quem sabe a que horas vou compensar essas horas sou EU, porque já sou adulta e se você não deposita FGTS nem me dá ticket refeição você não tem nada que controlar minhas horas de trabalho – apenas espere que eu te entregue até mais do que você pediu, dentro do prazo acordado), faça as contas sobre que horas é decente parar de trabalhar.
Pois é.
E quando eu preciso trocar os turnos (fui ao médico, passei duas horas na espera, fui visitar minha madrinha em outra cidade ou quis fazer feira mesmo), eu vou te mandar e-mails à noite, sábado, domingo ou quando for. Mas eu sei que você tem uma família também. Cliente também trabalha o dia inteiro e precisa descansar.
Você pode até mandar mensagens à noite em plena sexta-feira, porque você tirou o dia para outras coisas e só conseguiu trabalhar à noite. Mas não espere resposta urgente. Não espere resposta urgente.
Pega leve.
Se você não é CLT, as regras do SEU trabalho quem faz é você.